in Expresso, 13 de Junho 2015
O trabalho conjunto está na base do desempenho da equipa Look Ahead.
A Associação Salvador está a participar pela primeira vez no Global Management Challenge 2015. A sua equipa é formada por um dos seus sócios, Miguel Monteiro e por Rita Adónis, Raquel Santos e Leogizy Gaspar, ligadas pelo empreendedorismo social e voluntariado a esta associação que tem como missão promover a integração de pessoas com deficiência motora na sociedade e melhorar a sua qualidade de vida. Com formações e dificuldades diferentes a equipa Randstad-IEFP Look Ahead mostra que basta dedicação e trabalho conjunto para se obterem bons resultados no mundo da gestão.
Ester Rosa é gestora de projetos na Associação Salvador e conta que partiu da Randstad e do IEFP o convite para que organizassem uma equipa para participar na competição. “Quisemos criar uma equipa mista para promover a integração das pessoas com deficiência”, explica. Acredita que a prova desenvolve competências para a empregabilidade, como a tomada de decisão, trabalho em equipa e adaptação à adversidade. “Queremos mostrar ao mundo que estas pessoas são capazes, são empregáveis e têm talento. Incentivo todos a participarem neste desafio e a procurarem o seu emprego de sonho”, frisa Ester Rosa.
Miguel Monteiro recebeu uma mensagem de correio eletrónico da Associação Salvador para participar na prova e conta que nunca diz não a um bom desafio.
Tetraplégico e invisual, convenceu a mãe a dar-lhe apoio e embarcou nesta aventura onde afirma “estar a aprender muito e a colocar em prática conhecimentos adquiridos”. Licenciado em gestão, constitui com Raquel Santos a única equipa com formação nesta área e estão em terceiro lugar no seu grupo.
Embora possua essa vantagem competitiva Miguel Monteiro enfrenta outras dificuldades. Já esperava que a informação que iria receber não estaria acessível à leitura por computador e que seria necessário alguém ler-lhe o material. Uma função desempenhada pela mãe. Miguel decora os dados para que os possa trabalhar mentalmente e participar de forma plena nos resultados da equipa.
Superar dificuldades
As dificuldades de mobilidade de Miguel Monteiro levaram ainda a alterações na rotina desta formação. “O que foi superado pela dinâmica que se criou na equipa, tendo a mesma optado por se deslocar e ter como centro de operações a casa do Miguel”, explica Raquel Santos, chefe da Randstad-IEFP Look Ahead. Acrescenta que a gestão do tempo é o maior desafio que encontram, pois precisam de mais horas para processar a informação, cruzá-la com o vários membros e coordenar horários.
A nível técnico esta experiência permitiu-lhe já prever e antecipar as consequências das decisões, assim como monitorizar e adaptar estratégias e decisões. A nível pessoal confirmou que “as competências individuais estão além das limitações físicas, mesmo quando estas são múltiplas podem ser superadas, desde que exista uma boa coordenação do trabalho de equipa e o mesmo esteja sedimentado numa base de confiança e respeito mútuo”. Para Rita Adónis, licenciada em serviços social, esta experiência tem sido de aprendizagem constante. “A aquisição de conhecimentos é uma mais-valia para os projetos de empreendedorismo social em que estou envolvida e é uma oportunidade de enriquecimento pessoal ao fazer parte de uma equipa de pessoas com experiências de vida tão variadas”, refere. Leogizy Gaspar, membro desta formação acrescenta que na prova está a adquirir “ferramentas e competências específicas da gestão”.
Pensar a estratégia e fazer concessões táticas
Wojciech Zytkowiak integrou a edição polaca da prova em 2007 e aprendeu que para ter sucesso é necessário planear e trabalhar em equipa.
O Global Management Challenge foi criado pelo Expresso e a SDG há 36 anos e está atualmente presente em mais de 30 países. A Polónia disputa esta competição desde o ano 2000 e Wojciech Zytkowiak participou na edição de 2007 deste país. Para ele foi um momento de aprendizagem e um desafio complexo que teve de enfrentar.
Aos 36 anos de idade, Wojciech Zytkowiak é Head of Talent Programmes & Employer Branding (responsável pelos programas de talento e marca de empregador) da Jerónimo Martins. Tem formação na área da ciência política, relações internacionais e um MBA. Da sua participação na competição lembra que “foi um tempo intensivo, com muita aprendizagem pelo caminho. O desafio acabou por ser mais complexo do que esperávamos e o processo de perceber as implicações práticas da informação fornecida e a construção do modelo analítico de suporte à nossa tomada de decisão, levou-nos muitas horas de trabalho”.
Prever para vencer
“No Global Management Challenge percebemos a importância da previsão”, explica Wojciech Zytkowiak. Acrescenta que foi fantástico ver a exatidão da previsão do resultado das decisões tomadas. Resultado esse que obtinham utilizando um modelo analítico que criaram e pela análise dos dados disponíveis. Outro ponto que salienta é o do trabalho em equipa desenvolvido.
Na competição e para este antigo participante é “importante o trabalho de equipa e o senso de responsabilidade de cada um. É que há muito trabalho que precisa de ser feito na fase preparatória da prova e é preciso partilhá-lo entre os membros da formação”.
Na prática e para Wojciech Zytkowiak, o Global Management Challenge consiste em várias semanas de prova onde são tomadas decisões que se traduzem em resultados. No final do dia o que conta é o resultado da última decisão e não do que aconteceu antes. Daí que este antigo participante considere “importante pensar sobre a estratégia e fazer concessões táticas que irão ter resultado na próxima decisão, em direção a objetivos estratégicos que terão resultado no final”. Conta que na altura e por a sua equipa ter colocado em prática esta política, recebiam telefonemas de colegas da Jerónimo Martins que estavam a monitorizar os resultados da formação e como esta não estava a ter bons resultados nas primeiras decisões, perguntavam-lhes se estava tudo bem e se precisavam de ajuda. “Estávamos certos de que no fim tudo iria correr bem para nós e foi muito recompensador e engraçado, escrever depois da última ronda aos colegas que estavam preocupados com os nossos resultados e ser capaz de lhes dizer ‘vejam, nós conseguimos'”, finaliza Wojciech Zytkowiak. Na edição de 2007 a sua equipa esteve presente na primeira e segunda volta.
Maribela Freitas
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