In Revista Exame, Outubro 2016
Competição
O Global Management Challenge estreou-se na Rússia em 2006, com 500 equipas, um número que atingiu as 1200 na sua décima edição
A dimensão internacional do Global Management Challenge cativou a Rússia e este é atualmente um dos melhores mercados da prova e também um dos mais competitivos.
Depois da China, é o país com mais equipas inscritas anualmente e em 10 anos já venceu cinco finais internacionais.
Em 2006, esta competição portuguesa de estratégia e gestão, organizada pela SDG -Simuladores e Modelos de Gestão e o Expresso há 37 anos, chegou à Rússia por iniciativa de Vyacheslav Shoptenko, diretor da área de novas tecnologias da Ranepa -The Russian Presidential Academy of National Economy and Public Administration, responsável por desenvolver novos cursos e programas baseados em métodos inovadores, como, por exemplo, simulações de negócios.
O Global Management Challenge enquadra-se neste espírito, sendo uma simulação de gestão em que equipas formadas por universitários e quadros têm de liderar uma empresa e tomar decisões de estratégia e gestão em áreas tão variadas como finanças e recursos humanos. Em cada edição anual as equipas competem entre si ao longo de uma primeira volta, sendo que as melhores desta etapa passam à segunda volta e depois desta fase só as oito melhores disputam a final nacional, de onde sai apenas um vencedor. A prestação é avaliada pelo melhor desempenho do investimento de cada empresa. Anual mente é escolhido o vencedor mundial numa final internacional que junta os campeões dos mais de 30 países onde este desafio está presente. “Participei neste evento integrado numa equipa de estudantes, em 2002, na Eslováquia”, conta Vyacheslav Shoptenko.
Partiu daí a ideia de levar a competição para a Rússia. Antes da prova se iniciar neste destino, teve de demonstrar as suas qualidades. Foi aberto um concurso pela Ranepa e a organização portuguesa fez uma apresentação perante um júri, tendo como concorrentes uma empresa espanhola e outra alemã, também elas detentoras de simulações de gestão. “Passado pouco tempo disseram-nos que tínhamos sido os escolhidos. Mas o que fez a diferença foi o nosso nível de internacionalização, sendo que a Rússia estava ávida por participar em iniciativa internacionais”, explica Luís Alves Costa, presidente da SDG -Simuladores e Modelos de Gestão e fundador do Global Management Challenge.
Primeira edição russa
A partir dessa altura, a Ranepa ficou responsável pela organização da competição na Rússia, liderando Vyacheslav Shoptenko o processo. “Já tínhamos notado noutros parceiros do Leste Europeu e, depois, também aqui que havia grande interesse por tudo o que está relacionado com a economia de mercado. Assinámos o acordo e é hoje o segundo país com o maior número de equipas por ano, depois da China”, refere Luís Alves Costa.
A primeira edição começou no final de 2006 e terminou no início de 2007, contou com 500 equipas e ultrapassou os dois mil participantes, uma vez que cada formação pode ter entre duas a cinco pessoas. Na décima edição, referente a 2015/2016, foram 5500 os participantes, repartidos por 1200 formações. Em edições anteriores a Rússia chegou a ultrapassar as duas mil equipas da China, mas atualmente isso não se verifica, ficando em segundo lugar no que respeita a formações participantes.
Mais de metade das equipas russas são formadas por estudantes de economia e áreas técnicas e as restantes por quadros de PME, grandes empresas, professores e funcionários públicos. Desde a primeira edição que há duas ligas, uma de universitários e outra de quadros. Para satisfazer as necessidades de um território tão vasto, o modelo foi um pouco alterado. Em Portugal, a cada edição anual há duas voltas e uma final sempre a nível nacional. Na Rússia, “o nosso campeonato engloba vários subcampeonatos”, explica Vyacheslav Shoptenko. A título de exemplo, conta que em 2015/2016 foram organizadas edições em cinco regiões, com a sua respetiva final.
Além disso, universitários e quadros de outras regiões do país puderam participar a nível nacional via Internet. Para a final nacional são convidadas deste somatório as oito melhores equipas de cada liga (quadros e estudantes). Uma alteração de modelo que o presidente da SDG justifica pela necessidade de dar protagonismo às formações das várias regiões e conquistar mais visibilidade para esta iniciativa -que na Rússia tem, desde 2011, o apoio da Agência Nacional de Iniciativas Estratégicas.
Vencedores cinco vezes
Na opinião de Luís Alves Costa, a dedicação dos russos a este desafio é grande, o que se traduz nos bons resultados obtidos a nível internacional. A sua primeira vitória neste patamar deu-se na edição de 2008 e teve igual desempenho nas edições de 2011, 2013, 2014 e 2015 (ver caixa “A competição vista por campeões”). Já para Vyacheslav Shoptenko as vitórias são importantes mas o fundamental é perceber que é uma ferramenta formativa. Acredita que tanto estudantes como quadros desenvolvem “competências de estratégia e gestão, aprendem a trabalhar em equipa e a decidir em campos tão díspares como produção ou marketing”. Ajuda ainda os participantes a decidirem se querem ou não investir num negócio próprio. Numa outra vertente, “a menção de uma participação de sucesso no Global Management Challenge num curriculum vitae permite ao candidato a um emprego destacar-se perante a concorrência, e para quem já trabalha pode comunicar com outros gestores na mesma linguagem de negócios”, acrescenta.
Tendo em conta o sucesso alcançado na Rússia, o organizador local quer levar esta iniciativa a outros países da Comunidade dos Estados Independentes, que integra 11 repúblicas da antiga União Soviética. O primeiro da lista é o Cazaquistão.
A confiança neste produto levou ainda a Ranepa a assinar, no final do ano passado, com a organização portuguesa um acordo de continuidade com a prova sem término definido.
VITÓRIAS
A competição vista por campeões.
Para os elementos das equipas que venceram as últimas três finais internacionais do Global Management Challenge (2013, 2014 e 2015), esta foi uma experiência formativa na área dos negócios onde, entre outros aspetos, aprenderam a trabalhar em equipa, desenvolveram conhecimentos e mostraram a capacidade russa na área da gestão.
Ruslan Sagitov liderou a formação da Rússia que venceu a final internacional da edição de 2015. Doutorado em Economia, relembra que começou a participar na prova ainda estudante e ficou impressionado com a sua escala internacional. Vencer foi sempre o objetivo e neste percurso “desenvolvi competências analíticas, aprendi a trabalhar em equipa e que é importante ter um grupo de trabalho forte”, explica.
Os conhecimentos e a experiência adquirida é o que Alla Platonova, líder da formação que venceu a edição de 2014, mais valorizou na sua participação.
Conta que a competição a ensinou a ser mais clara e a ter sangue frio na gestão e na vida, porque há que tomar decisões perante os obstáculos e quando se comete um erro é necessário descobrir rapidamente a causa e corrigir a situação. “Quando os russos se interessam por algo, são capazes de mover montanhas e de se unirem em equipas muito eficientes para obterem resultados”, finaliza. Talvez seja esta a razão para os bons resultados que o país tem obtido a nível internacional.
Mais do que empenho, Vyacheslav Zyryanov, que chefiou os vencedores de 2013, aponta a “persistência, muito treino, talento e um treinador que ajude no desempenho” como receita para o sucesso internacional num desafio que apelida de “Jogos Olímpicos para Gestores”
Maribela Freitas