in Exame, 27 de Novembro 2014
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Com 35 anos de vida, o Global Management Challenge está presente em mais de 30 países e já envolveu meio milhão de pessoas.
Em agosto de 1979, o Expresso noticiava o lançamento do Gestão 80 o Grande Jogo das Empresas. Passados 35 anos, esta competição portuguesa realiza-se em mais de 30 países e já envolveu meio milhão de pessoas.
No final dos anos 70, quando Luís Alves Costa, presidente da SDG, e Francisco Pinto Balsemão, chairman do Grupo Impresa, resolveram criar o Gestão Global, estavam longe de imaginar no que esta competição se tornaria. A primeira edição portuguesa começou com 120 equipas e hoje ultrapassa 400. A internacionalização começou com o Brasil, em 1981, e atualmente está presente em mais de 30 países, entre os quais se contam a China e os Emirados Árabes Unidos, por exemplo.
É a prova de que uma iniciativa portuguesa pode ultrapassar barreiras e conquistar o mundo.
O primeiro contacto de Luís Alves Costa com simuladores de gestão deu-se quando era professor assistente de Informática e Gestão no ISCEF (agora ISEG) e administrador da Time-Sharing. Utilizou-os com os seus alunos e verificou que estes, ao competirem contra uma máquina, aprendiam conceitos de gestão mais facilmente.
Em 1979 frequentou um curso, em Lisboa, onde ficou impressionado com uma apresentação realizada por professores da Universidade de Strathclyde, na Escócia, e sócios da empresa Edit 515, que tinham criado um modelo informático para os alunos de MBA que lhes permitia testarem várias soluções e verificarem as consequências das decisões. No Reino Unido, o modelo serviu mesmo de base a uma competição com equipas a lutarem entre si. A ideia cativou-o e quis trazer o simulador para Portugal. Estabeleceu uma parceria com a Edit 515 e obteve a exclusividade mundial deste sistema. “Nessa altura, o Expresso era o jornal mais lido pelos empresários e para fazer uma competição pública precisávamos de promoção”, conta Luís Alves Costa. Francisco Pinto Balsemão explicou, em entrevista ao Expresso, que “gostei da ideia, achei-a avançada e penso que os bons meios de comunicação social têm sempre a obrigação de antecipar tendências”.
Estava lançada a base de uma parceria que dura até hoje.
Na edição de 18 de agosto de 1979 do Expresso era noticiado que “o Gestão 80 consiste numa competição entre equipas de seis elementos, normalmente pertencentes à mesma empresa, a quem são entregues problemas de gestão que terão de resolver com auxílio de um computador”.
A primeira edição realizar-se-ia em 1980 e contou com 120 equipas, hoje já ultrapassa as 400 em Portugal, e são formadas por estudantes, quadros e mistas (integram estudantes e quadros).
A prova desenvolvia-se, tal como hoje, em três fases. Na primeira volta, as equipas são divididas por grupos de oito equipas cada e têm de tomar cinco decisões de gestão em áreas que vão das finanças aos recursos humanos, ao longo de cinco semanas.
Ganha a que na última decisão estiver no topo do seu grupo, ou seja, a que conseguiu a mais alta cotação das ações da sua empresa face à concorrência.
Na segunda volta são organizadas em oito grupos e o processo repete-se, e as oito melhores vão à final nacional, onde irão competir entre si e a que obtiver melhor resultado vence. Desde que começou a internacionalização que há uma final internacional, com os vencedores de cada país, sendo que apenas um se sagra campeão. “Na primeira edição, tivemos a sorte de ser bem recebidos pela comunidade empresarial e os primeiros participantes foram elementos dos conselhos de administração.
Depois foi um sistema em cascata, os administradores gostaram, aprenderam e passaram para baixo na hierarquia, e esta tem sido a nossa história”, salienta Luís Alves Costa. Foi também criado um júri, que na altura era presidido por Alfredo Nobre da Costa. Desde 1995 e até hoje é liderado por Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu. “O papel do júri é a regulação da competição, sendo que delibera, de modo definitivo, independente e irrevogável, sobre todos os assuntos, dúvidas ou conflitos relacionados com o prosseguimento, classificações ou atribuição de prémios”, explica Vítor Constâncio.
Internacionalização
Em 1981, e com o sucesso que o Gestão Global desde 2006 intitulado de Global Management Challenge alcançou em Portugal, os fundadores quiseram internacionalizar e o país em melhor posição para tal foi o Brasil. Depois deste vieram outros países europeus, mas o grande passo foi a entrada na China em 1995, um marco para este desafio que começou a ser cada vez mais valorizado internacionalmente. “Na China, a competição desenvolve-se com diferenças, uma vez que o nosso modelo dá alguma flexibilidade. Antes de arrancar, foi preciso a aprovação de uma associação de empresários que testou o simulador.
O nosso parceiro chinês, David Shi, disse logo que tínhamos de investir nas universidades, nos MBA, e acertou.” Neste país são quase duas mil as equipas participantes, formadas apenas por estudantes.
O modelo de negócio é um pouco diferente (ver caixa Modelo de negócio), uma vez que aqui as formações de estudantes pagam para participar e o valor vai subindo à medida que evoluem na competição.
Foi uma forma de tornar o Global Management Challenge rentável no país.
Expansão a Leste
Em 2000 deu-se o boom nos países do Leste Europeu, que começou pela Polónia e hoje está presente na República Checa, Estónia, Letónia, Roménia, Eslováquia, Ucrânia e Rússia. Em terras russas atingiu uma dimensão inimaginável há 35 anos, com cerca de três mil equipas a disputarem a prova. O crescimento recente tem–se centrado mais nos países africanos e do Médio Oriente, com a adesão dos Emirados Árabes Unidos e do Quénia. “Sinto que estas zonas vão ser importantes na nossa expansão”, afirma Luís Alves Costa.
Ao longo dos anos esta nunca foi uma competição estática, mas uma iniciativa que apostou sempre na inovação. O simulador está longe de ser o inicial (ver caixa A evolução do simulador). Ray Taylor, sócio da Edit 515, conta que a atual versão, revista pela sua empresa e a organização portuguesa em 2013, é a sexta, para além dos muitos pormenores que foram introduzidos nestes 35 anos. “É multifuncional e cria um desafio real que mantemos sempre atualizado”, acrescenta. A última versão, mais próxima da realidade, provocou alterações nos critérios de avaliação, que deixou de valorizar a cotação das ações, estando agora em causa, desde 2013, o melhor desempenho do investimento.
Desafio de topo
Em entrevista ao Expresso, Francisco Pinto Balsemão revelou que tanto ele como Luís Alves Costa sempre quiseram que esta fosse uma competição de topo e na sua opinião os participantes valorizam muito a passagem pelo Global Management Challenge. José Galamba de Oliveira, presidente da Accenture Portugal, é disso exemplo. Integrou este desafio no final dos anos 80 e adianta que “foi uma oportunidade de aprofundar conhecimentos de gestão, pois o meu background é de engenharia”. A empresa que dirige patrocina a competição, que acredita ser “uma iniciativa que possibilita aos estudantes universitários e quadros uma excelente oportunidade de aprendizagem e de partilha de experiências ao nível da gestão”.
A maioria das empresas que apoia a inscrição de equipas considera que é uma experiência formativa para estudantes e quadros, permite avaliar e recrutar talento universitário e criar pontes entre o mundo académico e o empresarial.
Também Francisco Almada Lobo, CEO da Critical Manufacturing, valoriza a sua passagem pela prova. Ex-quadro da Quimonda, participou de 2008 a 2010 e lembra que a competição reforçou em si e nos seus colegas a ideia de que eram capazes de gerir uma empresa pelos resultados obtidos, sendo que na altura em que deram início à criação da Critical Manufacturing, em 2009, estavam a participar no Global Management Challenge. “É uma competição extremamente interessante pelos diversos patamares de aprendizagem que proporciona, simulando o que existe no mundo empresarial”, frisa.
Desde que há finais internacionais, Portugal tem sido um concorrente de peso. Contudo, desde a edição de 1998 que não vence internacionalmente, tendo o título ido para a China e países do Leste Europeu. Eduardo Amaro, sócio gerente da Team Projectos de Investimento, liderou a equipa que trouxe pela última vez o título para Portugal. “O que mais me marcou foi comprovar que as características culturais dos diversos países influem bastante nas estratégias de abordagem seguidas”, relembra. Na sua visão, o Global Management Challenge é “uma ferramenta de excelência com uma grande adequação ao mundo real empresarial que aumentou a minha apetência pela área da gestão estratégica e incutiu-me para sempre a importância da satisfação dos vários stakeholders no sucesso do médio prazo de uma empresa”.
No final de novembro, o Global Management Challenge completou em Portugal a sua 35.ª edição.
HISTÓRIA
A evolução do simulador
Desde a sua criação, nos anos 70, o simulador que serve de base ao Global Management Challenge já mudou, e muito. Ao longo dos anos foram introduzidas mudanças associadas à evolução da tecnologia e atualização dos temas, para acompanhar a evolução do mercado. Cada nova versão é desenvolvida pela Edit 515 e a organização portuguesa.
De acordo com a SDG, os primeiros cálculos eram feitos no maior computador de cálculo científico, que se designava DEC10, em processamento batch processing. Nas primeiras edições, os resultados, expressos num relatório de gestão, eram processados e disponibilizados às equipas sete dias depois. Mais tarde passaram a ser processados num microcomputador e a grande evolução deu-se com a Internet.
No que respeita aos temas abordados, a organização tem tentado sempre inovar e antecipar tendências. Antes da introdução do euro, o simulador começou a utilizar o ECU. Quando a preservação ambiental começou a ser uma preocupação à escala mundial, foi criado um algoritmo penalizando as empresas mais poluentes. Em 2003, e por causa da pneumonia atípica, a final internacional da competição, que se realizava em Macau, teve de ser adiada, o que levou a organização a introduzir um algoritmo com o objetivo de produzir eventos aleatórios, como uma revolta ou greve geral num país exportador de matéria-prima.
Em 2013 foi lançada a mais nova versão do simulador com novas decisões.
Foram introduzidas variáveis, como uma maior sensibilização para a preservação do ambiente, a possibilidade de fazer outsourcing da produção, de expandir a fábrica, de dar formação como forma de reter talento e de emitir e recomprar ações.
FÓRMULA
Modelo de negócio
O que na prática diferencia esta competição da restante concorrência que existe pelo mundo fora é o modelo de negócio. A fórmula tem sobrevivido ao longo de 35 anos em Portugal e tem sido aplicada com sucesso nos mais de 30 países onde o Global Management Challenge se realiza.
A organização da competição a nível nacional e internacional é partilhada pela SDG e o Expresso, sendo que este é também o parceiro de media.
A competição assenta num simulador forte, inovador e próximo da realidade e é patrocinada por empresas que, como contrapartida, terão um número de equipas a representá-las. Há ainda a figura do apoiante, criada para que as entidades públicas possam estar ligadas a este desafio. Também elas têm direito a ser representadas por equipas.
A prova é disputada por formações de estudantes, quadros e mistas. As primeiras não pagam a inscrição, sendo que esse valor será suportado pelas entidades que as irão apoiar. Quanto às equipas de quadros e mistas, o pagamento para a sua inscrição é feito pela empresa para a qual trabalham.
Para se ter uma ideia do número de entidades envolvidas neste processo, a edição deste ano conta com o patrocínio de 10 organizações, o apoio de sete entidades e mais de 70 empresas apoiaram monetariamente a inscrição de formações.
Outro pilar do modelo é o júri nacional e o internacional, que não só dão credibilidade à competição como garantem que, em caso de problemas, existem entidades autónomas que os resolvem.
No estrangeiro, este modelo é replicado. Os países adquirem o franchising, tendo a obrigatoriedade de realizar uma competição pública, fazer uma final nacional e participar com o seu vencedor na final internacional.
Texto Maribela Freitas